quinta-feira, 13 de maio de 2010

Matas Ciliares - Sua importância no Meio Ambiente

Onde não existe mata ciliar, nas nascentes, córregos e rios, ocorre a perda de qualidade da água, erosão e perda de nutrientes do solo, aumento de pragas nas lavouras, redução da atividade pesqueira, enchentes e assoreamento dos rios.
Esses são os danos causados pela redução das matas ciliares.
A ausência da mata ciliar faz com que a água da chuva escoe sobre a superfície, não permitindo sua infiltração e armazenamento no lençol freático. Com isso, reduzem-se as nascentes e são afetados os córregos, os rios e os riachos.

A mata ciliar é a formação vegetal localizada nas margens dos rios, córregos, lagos, represas e nascentes. Considerada pelo Código Florestal Federal como “área de preservação permanente”, com diversas funções ambientais, deve respeitar uma extensão específica de acordo com a largura do rio, lago, represa ou nascente

Para amenizar os problemas decorrentes da degradação das matas ciliares no Oeste Catarinense, foi elaborado um projeto de proteção, recuperação e preservação da mata ciliar, pelo Programa Iberê, pelo programa Microbacias 2, por 13 municípios e pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). O projeto tem como objetivo executar a recuperação de mata ciliar nativa nas áreas degradadas dos mananciais hídricos, como nascentes, riachos e banhados, a fim de garantir água de melhor qualidade, além de incentivar o uso sustentável dos recursos naturais. O projeto será desenvolvido nos municípios de Águas de Chapecó, Águas Frias, Caxambu do Sul, Chapecó, Cordilheira Alta, Coronel Freitas, Guatambu, Nova Erechim, Nova Itaberaba, Planalto Alegre, São Carlos, Serra Alta e Sul Brasil.

No município de Chapecó, o Lajeado São José será o beneficiado. O projeto abrange a área da divisa com Cordilheira Alta até onde começa o perímetro urbano. Segundo a coordenadora do Programa Iberê em Chapecó, Elisabeth Allebrandt, serão feitas análises da água nessa região para verificar o grau de contaminação através de dejetos agrícolas para, se houver esta contaminação, ser feito um trabalho mais técnico, inclusive com aplicação de multas se houver a necessidade. Em Chapecó, o trabalho envolve, além do Iberê, a Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Unochapecó, a Udesc, a Epagri e a Casan. O objetivo é recompor a mata ciliar do Lajeado São José e proteger fontes e nascentes, além da conscientização dos proprietários rurais para a proteção do meio ambiente.

Em Caxambu do Sul, o projeto foi lançado no dia 22 de março, data que marca o Dia Internacional da Água. Inicialmente o projeto irá abranger o Lajeado Dom José. Segundo a facilitadora do Microbacias 2, Jane Elizabete Basso, esse Lajeado foi escolhido por ser o que apresenta mais problemas. Os maiores são os dejetos, o lixo e os açudes, que, quando são secados pelos agricultores, promovem a erosão. “Na comunidade do Grêmio da Serraria, quando não chove, as pessoas dependem dessa água para tudo. Lá eles têm o problema do lixo, do esgoto e dos dejetos que descem no decorrer do rio”, comenta Jane.

O primeiro passo do projeto será iniciar, até junho, a construção de uma cerca de 4 fios de arame farpado, para ser colocada nos 2 lados do rio, a 5 metros de cada lado. Segundo a facilitadora, a natureza se reconstitui ao natural se ninguém pisar, se ninguém tocar a área protegida. A idéia também é plantar algumas mudas de árvores frutíferas nativas, por causa da biodiversidade. As mudas serão produzidas pelo viveiro municipal. “Estamos pensando em fazer uma coleta de sementes, até como forma de conscientização”, comenta ela. As principais espécies de árvores frutíferas nativas que serão plantadas são a cereja, o guabiju, a ovaia, a pitanga, a guavirova, a jabuticaba, e a goiaba. Jane afirma que a verba recebida pela Casan não contemplará toda a extensão do Lajeado Dom José. Daí, a idéia é buscar outras fontes para poder realizar a recuperação da mata ciliar desse lajeado e em todos os rios do município.

A história de um lajeado

É na comunidade de Engenho Velho, Caxambu do Sul, que o Lajeado Dom José nasce. O local fica próximo à propriedade de seu Ernesto Pagliari. O agricultor mora na propriedade há quase 60 anos e conta como era o Lajeado naquela época. “Antigamente era puro sertão, pinhal, puro mato. Então, o Lajeado Dom José era coberto por mato, era uma sanga limpa, não tinha poluição. Tinha bastante peixes, a gente vivia pescando”, lembra.

Segundo Pagliari, com o passar dos anos a população aumentou. Logo, os novos moradores começaram a destruir as matas. O desmatamento era feito nas margens do Lajeado Dom José, porque a terra era melhor. “Era melhor para trabalhar porque rendia mais”, explica Pagliari. Mais tarde, tudo foi devastado para implantar os novos sistemas de plantio na terra, com investimentos para melhorar a produção. O agricultor conta que os pinhais foram destruídos sem gerar rendimento financeiro. Foram derrubados para aproveitar a madeira para cercar os chiqueirões de porco, para construir estrebarias, enfim para consumo na propriedade, e não eram vendidos.

O agricultor lembra que quando era rapaz o lajeado não tinha tanta água como hoje, mas ela era limpa e pura. “Você podia chegar lá e beber”, comenta. Pagliari conta que com o desmatamento houve épocas em que a água “sumiu”. Mas agora, com o plantio direto, a água voltou, sendo suficiente para sustentar as comunidades de Engenho Velho, Dom José e Grêmio da Serraria. “O Lajeado Dom José tem muita potência de água, mas é uma água que não dá para beber. Já não é mais aquela água pura que tinha antes quando tinha mato”, afirma seu Ernesto.

Com a experiência que possui, o agricultor conta que com as enxurradas e com o desmatamento a terra desce das lavouras para dentro do rio, o que provoca o assoreamento dos mesmos e deixa a água suja. Junto com a terra, acabam nascendo dentro dos rios o capim, que tranca o percurso normal. “Não é mais aquelas pedras limpas que tinha uma vez. É tudo cheio de poluição. Quando dá uma chuva, aquela água amarela, aquele limbo que se cria dentro da água escorre para baixo. Mas é um limbo que se cria pelo próprio solo. Como não tem os canais limpos para descer ela se acumula, deixando a água imprópria para beber”, afirma Pagliari. Ele comenta, ainda, que em muitas propriedades os agricultores criam o gado perto dos rios, o que faz com que a água receba a contaminação por coliformes fecais. Por isso, quando se fala no projeto de recuperação da mata ciliar, seu Ernesto é enfático “O projeto irá ajudar o nosso lajeado. Após estar coberto pela mata ciliar novamente ele vai se limpando. Com as enxurradas, a água aumenta e vai levando toda a sujeira. A água ficará mais limpa e a natureza vai agradecer. Estamos começando a devolver a ela o que tiramos há muitos anos”, finaliza.

A mata ciliar é responsável por:

Reter/filtrar resíduos de agroquímicos, evitando a poluição dos cursos d’água
Proteger contra o assoreamento dos rios e evitar enchentes
Formar corredores para a biodiversidade
Recuperar a biodiversidade nos rios e áreas ciliares
Conservar o solo
Auxiliar no controle biológico das pragas
Equilibrar o clima
Melhorar a qualidade do ar, água e solo
Manter a harmonia da paisagem
Melhorar a qualidade de vida